Por que eu comecei a correr? Essa clássica pergunta, na verdade, deveria se transformada em outra: por qual motivo eu continuo correndo? Para respondê-la, preciso voltar à minha infância… Sempre estive “acima do peso”. Uns quilinhos extras insistiam em me acompanhar desde sempre. Mas a balança desandou mesmo entre 2003 e 2004. Nessa época, recém-casada, o ponteiro registrava 10 quilos acima do meu peso ideal. Engravidei com esse sobrepeso e ainda consegui aumentar mais 30 quilos durante a gestação. Um total de 40 a mais para só 1,57 m de altura! Como engordei por descontrole mesmo, esse histórico é considerado um absurdo. Poderia ter desenvolvido diabetes gestacional, pré-eclâmpsia, entre outros problemas. A médica me alertava e eu saía chorando do consultório. Desde a adolescência e depois do parto, entrava e saía de todos os tipos de atividade física. Fazia todas as dietas malucas da moda e já tive problemas emocionais por causa delas, além do efeito sanfona perigosíssimo. Até que um dia, resolvi “redefinir meu impossível”. Essa frase acabou virando meu lema de vida.
Eu precisava emagrecer e me apaixonar por alguma atividade física. Precisava mudar meu tipo físico, transformando a minha história da eterna briga com a balança. Primeiro, controlei meus pensamentos, tomei essa decisão interna, pois esse é o tipo de desejo que só é alcançado quando estamos com este propósito firme de mudança. Bem resolvida, há cerca de 4 anos, comecei a emagrecer comendo de três em três horas alimentos mais saudáveis. Ou seja, cortei todas as besteiras e, aos poucos, o resultado veio. Em seguida, comecei a fazer musculação e só andava na esteira para cumprir a parte aeróbica até que meu professor começou a me incentivar a correr. Aos poucos, vi que estava dando conta e mais: estava adorando aquele suor todo e a sensação maravilhosa que vem depois, além do corpo cada vez mais enxuto. Correr na rua então nem se fala… Enfim, a corrida apareceu do nada na minha vida, entre a musculação e a caminhada na esteira. Nunca havia planejado ser corredora.
Agora sim posso voltar à pergunta do início: por que continuo correndo? Porque uma vez corredora sempre corredora. É um estilo de vida, é um clube social, é um círculo vicioso dos bons. Você corre sozinha, mas o incentivo vem de muita gente. E foi uma grande amiga que me fez participar da primeira corrida de rua, de 5 km. Isso foi exatamente há um ano, em novembro de 2013. De lá para cá, participei de outras de 10 km, fiz a Volta da Pampulha do ano passado (18,6km), fiz duas meias-maratonas (21 km) este ano, uma em BH e outra em São Paulo, já me inscrevi para a minha segunda Volta da Pampulha, que será mês que vem, e tive a ousadia de me inscrever para uma Maratona, que será em abril de 2015. O percurso de 42 km será a marca histórica que mudará minha vida para sempre…
Se deixarmos as desculpas de lado e acrescentarmos determinação e desafios, conseguimos manter esse novo estilo de vida. O hábito passa a ser prazeroso. E a resposta vem com o tempo e a persistência, como tudo na vida.
Para quem quer começar a correr, eu aconselho a partir (depois de treinar, claro, e sempre com orientação profissional) para as corridas organizadas de rua. Nessas provas, conseguimos ir além do que imaginamos. A motivação é o principal fator. Ver que tantas pessoas com objetivos distintos estão ali cedo e dispostas, em pleno domingo, é fantástico.
Você literalmente nunca mais se sente só mais um na multidão. E se somos o que pensamos, eu passei a me considerar uma atleta, com muito suor e lágrimas… Passei a assistir constantemente o filme da minha vida inteira que passa na minha cabeça em um simples longão de fim de semana, por exemplo. Portanto a corrida é, também, terapia. Você se exercita por fora ao mesmo tempo em que é revirado por dentro quando se lembra, por exemplo, de que seu pai morreu antes de ter tido o orgulho de ver sua primeira medalha importante da vida. Dá para controlar seus medos, ficar cara a cara com suas tristezas ou fraquezas, saber a hora de avançar ou recuar na vida ou na pista, só não vale desistir sem motivo porque o nosso corpo resiste a quase tudo quando controlamos a nossa mente.
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