No dia 1º de outubro de 2013, Kildare Cardoso foi uma das duas mil pessoas que conseguiram se inscrever para o Ironman Fortaleza, que seria realizado um ano depois. Mas ele tinha alguns probleminhas: aos 34 anos de idade praticamente não sabia nadar e não tinha bicicleta.
A primeira providência foi a natação. Depois comprou uma bike speed que foi adaptada ao Triathlon e começou a parte mais dura do Ironman: o treinamento. Buscou orientação profissional para este trabalho.
Pra encarar um desafio como o Iron, Kil acordava às 3h30 da manhã pra pedalar, porque às 7h precisava estar na faculdade onde dá aulas de fisioterapia. De lá saía direto para o segundo treino, a natação. Um descanso depois do almoço e mais trabalho: pilates, tratamento de atletas, musculação, aulas na faculdade e só dormia por volta de 23h!
Ele chegava a nadar duas horas, treinando cerca de nove mil metros por semana para conseguir ir bem nos 3800 m no dia da prova. O pedal era de 70 a 90 km por dia e a corrida para a maratona podia ser de 30 a 36 km na fase final dos treinos.
Kildare começou a participar de provas pequenas. Depois passou para o Triathlon Olímpico: 1500 m de natação, 40 km de bike e 10 km de corrida. Como estamos falando do Kildare, não é de se estranhar que, em vez de passar para o Meio Iron, que tem a metade das distâncias da prova oficial, ele saltou direto para o Ironman. Quanto mais difícil, mais desafiador!
Depois de duas desilusões amorosas, Kil encontrou na Priscila toda a força que precisava para se manter firme a cada objetivo traçado. Ela dava suporte nos treinamentos e fazia o que podia para facilitar a vida do maridão atleta. Em alguns treinos de bike ela chegou a fazer a “segurança” do marido, com um carro de apoio. Enquanto Kil pedalava a cerca de 32 km/h, a Priscila tinha que dirigir na mesma velocidade, muitas vezes, por cinco horas seguidas. Não é à toa que ganhou o apelido de ironwife (esposa de ferro).
A realização
Chegou o tão esperado dia: 9 de novembro de 2014. O mar de Fortaleza estava muito mais bravo do que a “piscina” de Maceió. E neste dia estava ainda mais revolto. Foi preciso colocar uma escuna para sinalizar aos atletas os pontos de retorno no mar. “Eu dava braçadas e não achava a água, estava no meio da onda. Bebi muita água e saí zonzo do mar, mas não estava cansado”, contou.
No pedal ia tudo bem até o quilômetro 150, quando começou a sentir câimbra. Foi quando um senhor de aproximadamente 60 anos, que fazia o terceiro Iron dele, ofereceu uma cápsula de sódio que salvou o restante do ciclismo. Na segunda transição, a T2, aproveitou pra se alimentar bem e ainda levou mais suplemento para encarar a parte final do Iron: 42 km de corrida.
Kil contou que não parecia que ele já tinha completado um terço da prova quando começou a correr. “Eu ainda tava pilhado da bicicleta, tava elétrico. Comecei a corrida pace de 5’. Por volta do quilômetro 6 meu treinador me gritou pedindo para eu diminuir, desacelerar, que eu estava muito rápido ou ia quebrar na maratona”. Kil nem tinha percebido em que ritmo estava e diminuiu pra não correr risco de ter que abandonar a prova.
Foram 14 horas e 35 minutos de garra, superação, de força mental de quem sempre acreditou que seria possível. Segundo ele terminou inteiro. E ainda ouviu a mãe dizer que ela e a nora Priscila estavam mais cansadas do que ele só de acompanhá-lo!
Para Kildare, mais difícil do que a realização da prova foi a rotina de treinos durante um ano inteiro. Kildare escolheu sacrificar horas de sono, de descanso, de convívio com a esposa, família e amigos para se dedicar a um outro amor, o Triahtlon. E foi muito bem recompensado por isso.
Para as pessoas que duvidaram de Kildare, este foi só mais um objetivo alcançado. E ele avisa: “busco sempre mais. A gente não pode ficar parado, ficar na inércia. Tem que buscar sempre mais senão fica pra trás em tudo na vida. Ter objetivo na vida te faz seguir em frente”. E olha que tudo começou com um ‘pé na bunda’!”
Kildare já faz planos para os próximos desafios. Pretende fazer o Ironman de 2018. E quer cruzar a linha de chegada com o filho nos braços, nem que seja desclassificado por isso!
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