Saiba como foi a Uphill 2015 para os amigos da equipe Run&Fun
Ao alto e avante. Se correr 42km195m não é para qualquer um, imagine esse mesmo percurso com 256 curvas e 1.419 metros de altura… Deslumbrante e inspirador, o cenário é a Serra do Rio do Rastro, em Santa Catarina. O desafio é a Mizuno Uphill Marathon, primeira maratona de subida do Brasil. Mas só alcança essa vista dessa forma, passando ainda por três cidades catarinenses, quem é guerreiro e tem mais do que coragem, disposição e treinamento. Afinal, em uma corrida desse porte, ninja com louvor é quem ainda consegue tirar forças, além de tudo, para dar apoio ao outro.
E foi assim que Alexandre Conrado e Saulo, dois companheiros da mesma esquipe, venceram a serra: atravessando o pórtico de chegada juntos! “Foi ótimo correr com o Saulo. O cara é um trator. Estávamos juntos até o 20º km quando eu, que já estava sentindo o ritmo, vi um ponto de hidratação e falei para ele: até aqui viemos juntos, agora vai e faça sua prova. Mas nos reencontramos no 25º km e fomos juntos até o final! Foi uma dobradinha, quando um fraquejava o outro incentivava, assim foi até o final”, descreve Alexandre Conrado.
Câimbras, mudança de temperatura, frio, vento… Amizade morro acima é um troféu nessas horas. “A gente se apoiou bastante principalmente na subida da serra. Lá realmente unimos forças e, por isso, nada mais justo que chegarmos juntos. Reconheço que sempre precisei treinar mais que o Conrado. Ele é um gigante na corrida e chegar ao lado dele é um pódio pra mim. Costumo brincar que eu sou o bom, pois eu que consigo correr ao lado dele. Ele é um grande atleta, guerreiro, resistente e parceiro”, enfatiza Saulo.
Mas atenção para quem gosta de correr lado a lado e ainda é inexperiente em maratonas. “Tecnicamente, não recomendo correr com outra pessoa. Todos nós temos momentos de baixa e de alta em uma prova longa. Correr ao lado obriga as pessoas a se encaixarem no momento do outro e isso pode custar caro em uma prova longa”, explica Saulo.
Conselho dos ninjarunners:
Para você como eu que sonha correr a Uphill, mesmo sendo 25 km (nova opção para 2016), é bom ouvir a voz da experiência:
“Qualquer maratona já exige um grande preparo, a Uphill mais ainda, pois o tempo de exposição ao esforço e o percurso exigem muito da saúde, então se prepare! Acho importante se testar em outras provas antes de encarar esta. Maturidade na corrida leva a um bom desempenho na maratona”, diz Alexandre Conrado.
“É uma prova difícil, mas bem possível. Você precisa estar seguro pra fazê-la, não pode ir por modismo. Recomendo maturidade e experiência de provas longas, treinamentos em subidas, caminhadas rápidas em rampas fortes e muito fortalecimento muscular. A recuperação pós-prova é excelente, pois nos últimos quilômetros você vai caminhar bastante e isso desgasta menos”, brinca Saulo.
Conheça mais esses dois ninjas:
Além de atleta, Alexandre Conrado, 38 anos de idade, é marketólogo. Saulo Soares Arruda, 42 anos, é administrador e gerente de desenvolvimento profissional na Fiat Automóveis.
Abaixo segue a entrevista do Saia da Inércia com esses guerreiros:
Desde quando você corre?
Alexandre Conrado: Minha primeira Volta da Pampulha foi em 2006. Antes disto, fazia meus 6 km umas duas vezes por semana. As provas e o encontro com outros corredores começaram com a Corrida da Lua Cheia, uma corrida promovida pela Academia ByJapão. Em 2012, comecei a treinar com a Run&Fun.
Saulo: Corro há 18 anos. Quando comecei, eu corria nas ruas e os motoristas me chamavam a atenção pra eu correr no passeio. Naquela época, ainda era estranho ver pessoas correndo pelas ruas de bairro, mesmo no Belvedere.
Quais maratonas já fez?
Alexandre Conrado: Buenos Aires (2012), Rio de Janeiro (2013), Punta Del Leste (2014) e a UpHill (2015).
Saulo: Fiz Bueno Aires (2013), Patagonia/Torres del Paine (em 2014 – prova dura e congelante) e a Uphill (2015).
Qual foi seu melhor tempo em maratona?
Alexandre Conrado: Meu melhor desempenho foi na primeira: 3h20min.
Saulo: 3h41min em Bueno Aires
Já passou por algum momento de grande dificuldade em alguma prova?
Alexandre Conrado: Recentemente, participei de uma prova no Parque do Itacolomi, eram 26 km de sobe e desce, um treino para Uphill. Acho que não amarrei bem o meu tênis e sentia as bolhas se formando e tinha certeza que eu perderia algumas unhas, mas continuei na batalha, pois, em um posto de controle, fui informado que eu estava entre os 10 primeiros. Isso me motivou bastante. Resultado: 6º colocado geral e 1º na categoria 30 a 39 anos, além de 2 unhas a menos.
Saulo: Bueno Aires me marcou pela pouca experiência e a insegurança de algo sair errado. A prova de Torres del Paine me marcou pela temperatura negativa, fortes ventos, elevação média e estrada 100% cascalhada. O frio cortava os lábios. Na Uphill estava muito seguro, preparado e bem mais maduro. Apesar de ter sido muito difícil, foi também a que mais curti e menos sofri na recuperação.
Qual foi a prova mais difícil até hoje no conjunto?
Alexandre Conrado: A Uphill foi a mais difícil com certeza pelo desafio do percurso. Em Punta Del Leste, sofri muito nos últimos 9 km, pois estava na minha sina de lutar contra o vento. Mas a dificuldade era para todos, então mandei perna.
Saulo: A Maratona da Patagônia foi mais difícil pelo conjunto: técnica, preparação, maturidade, terreno cascalhado e grande diferença climática.
Resuma o que é a corrida para você em uma frase.
Alexandre Conrado: Mente sã, corpo são. Corpo são, mente sã.
Saulo: Ela não é a coisa mais importante da minha vida, mas sem ela a vida seria muito menos interessante.
Em algum momento de alguma prova você ficou emocionado?
Alexandre Conrado: Em Buenos Aires, eu me emocionava a toda hora. Foi a minha primeira maratona. Na minha cabeça, passava um filme: família, amigos e treinos. A energia do público também me emociona. Nós, cidadãos comuns, fazendo o que gostamos e eles ali, do outro lado, nos incentivando de graça pelo simples fato de colaborar.
Saulo: Na Uphill foram três momentos emocionantes. Quando no silêncio da noite na Serra, faltando somente 5 km dolorosos, gritos de “força” ecoavam e faziam outros atletas gritarem também. Foi mágico e motivador. Outro momento foi quando coloquei a música “Tente Outra Vez”, do Raul Seixas, em bom tom no celular. Tenho certeza que aquela música motivou também os atletas que estavam conosco naquela hora. Tem um trecho que diz: “Não pense que a cabeça aguenta se você parar”. Muito bom de ouvir. E, finalmente, o último momento emocionante foi quando eu cheguei e o locutor gritou meu nome em tom de vitória.
Sua família o apoia?
Alexandre Conrado: Minha família me apoia, mas tenho sempre o conselho da mãe: “não faça mais do que você aguenta”. Todas as medalhas que trago para casa faço questão de pendurar no pescoço do meu filho Pedro, de 5 anos. Ele adora. Daqui a pouco, ele vai me acompanhar.
Saulo: Minha família me apoia (tenho dois filhos, um de 9 e outro de 18 anos), compreende e ajuda, mas todo atleta amador tem que conciliar também. Precisa ir a festas, beber, comer, dormir tarde. Enfim, fazer quase sempre tudo que os familiares “normais” fazem. Precisa ser uma via de mão dupla. Talvez eu seria melhor atleta se eu conciliasse menos, mas não seria tão feliz como sou hoje.
Qual será o seu próximo desafio?
Alexandre Conrado: Fiz inscrição para Maratona de Londres 2016. Agora é aguardar o sorteio. Quero também fazer um Meio Ironman em 2016, mas ainda não mudei meus treinos.
Saulo: Ainda não decidi, mas penso em Muralha da China, Alpes Suíços, Two Ocean ou talvez uma famosa plana pra baixar tempo.
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