“Você não sabe no que foi se meter”. “Você não completa”. “Acha que isso aqui é triathlonzinho de Maceió?”. Essas foram algumas das frases que o fisioterapeuta Kildare Cardoso, de 35 anos, ouviu de alguns atletas de Maceió, onde mora desde 2010, assim que se inscreveu no Ironman de Fortaleza 2014.
A decisão de completar um Ironman foi tomada logo que Kil, como é chamado pelos amigos, terminou a Maratona do Rio. Após a inscrição, não fez questão nenhuma de esconder que ia encarar o maior desafio da vida dele. Plotou o carro anunciando pra quem quisesse ver que havia começado os treinos para encarar os 3,8km de natação, 180,2km de ciclismo e 42,2km de corrida, tudo isso de uma só vez. Por isso o nome da prova, Ironman, que significa homem de ferro.
Nascido e criado em Contagem, o esporte sempre esteve presente na vida do Kil, mas o que ele gostava mesmo era das lutas: Muay Thai, Taekwondo e Jiu-Jitsu. Até os 28 anos, a corrida era praticada como uma obrigação. Apenas 2,5 km e olhe lá, só para poder fazer os concursos públicos que a exigiam como prova eliminatória.
Os benefícios de um “pé na bunda”
Essa história só começou a mudar depois que Kil terminou um noivado de oito anos e entrou em depressão. Foi para a terapia e foi aconselhado pela psicóloga a procurar um esporte totalmente diferente que servisse como válvula de escape. Foi então que decidiu encarar a corrida com outros olhos, mas com segundas intenções. A então noiva também corria e o Kil queria ficar próximo dela, reencontrá-la nas provas e, quem sabe, reatar o relacionamento. E lá foi o Kil para a primeira prova, em 2009. Ele se surpreendeu com o resultado: 30 minutos em 5 km com várias subidas no bairro Belvedere.
Um mês depois fez uma prova noturna de 5 km em 28’30”. 15 dias depois, um resultado ainda melhor: 5 km em 26 minutos! Foi quando o bichinho da corrida começou a fisgá-lo! “Quando você sente o gostinho da endorfina, não tem mais jeito”, fala Kil sobre a substância conhecida como o hormônio do prazer, liberada durante a atividade física. “Nada como um bom pé na bunda pra te fazer andar pra frente”, disse ele se divertindo com a própria situação.
O gostinho pela corrida foi só aumentando, a vontade de retomar o antigo relacionamento foi sumindo e uma nova mulher apareceu na vida dele, juntamente com a mudança de ares. Das montanhas de Minas foi para as praias de Maceió!
De lutador a corredor
Kildare já estava correndo provas de 10km, mas sem qualquer orientação individualizada. Usava planilhas de revistas como suporte para os treinos e mesmo assim conseguiu baixar os tempos. Chegou a fazer 5k em 19 minutos e 10k em 48 minutos. Mas ele queria mais. O objetivo seguinte era fechar os 21 km de uma meia maratona em Maceió. Uma semana antes torceu o joelho, o mesmo que ele já havia machucado no Muay Thai durante uma luta. Apesar de ser uma pessoa determinada, a lesão mexeu com a cabeça do Kil, que já estava a base de anti-inflamatórios. A decisão de correr ou não ele só tomou no dia prova: e lá foi ele! O joelho começou a reclamar no quilômetro 15 e até os 21k foi só dor. E ele ainda fechou em 2h15!
A experiência não foi das melhores, por isso Kildare resolveu continuar treinando, sozinho, para fazer uma boa meia maratona. Por ser fisioterapeuta, tratou do próprio joelho e fez reforço muscular para dar conta do desgaste dos treinos. Viajou para Belo Horizonte e melhorou, mais uma vez, o pace. Terminou a Meia de BH em 1h50.
Resultado que fez o persistente Kil traçar novos objetivos: ele queria fazer uma maratona, 42 km de corrida. Escolheu a Maratona Maurício de Nassau, em Recife, mas não tinha qualquer orientação nutricional. Na noite anterior saiu com os amigos, comeu pastel frito sem a menor preocupação e foi dormir tarde.
No km 26 da maratona sentiu a dor da câimbra. Usou um carbogel pra ajudar e continuou firme. Ainda foi rebocado por uma amiga que completou os 21k dela, pegou pódio, e foi ao lado dele até terminar a prova em 4h46’ acabado! Quase não conseguiu falar com o pai dele no telefone de tanto chorar de felicidade por completar uma prova tão dura no calor do Recife.
Quando ainda era “apenas” um corredor, o segundo relacionamento de Kil desandou. Ele decidiu ficar sozinho, o que abriu as portas para um novo amor. Já conhecia Priscila Hackrad, que foi aluna dele de Muay Thai, mas só uns dois anos depois descobriu que ela era sua cara metade. Dela recebeu o apoio que precisava para encarar o maior desafio esportivo da vida dele!
No próximo post, você vai ver como Kil se transformou no homem de ferro!!!
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